Yaripo: uma nova forma de desbravar a floresta

Para muitos brasileiros, o ponto mais alto do Brasil é o Pico da Neblina — uma montanha de 2995 metros de altitude que fica na fronteira com a Venezuela. Já para o povo yanomami, trata-se de um lugar sagrado onde habitam os espíritos e a quem respeitosamente os índios chamam de Yaripo — a montanha do vento.

Desde 2002, o acesso ao Parque Nacional foi fechado a turistas e só é permitido com autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O veto foi necessário para preservar a floresta e proteger as reservas indígenas de ações de exploração clandestina do trabalho humano.

Neste post você vai conhecer o projeto Yaripo e como o povo yanomami pretende, a partir de 2019, conduzir os turistas ao cume da montanha, apresentando as belezas do lugar e fomentando o comércio de uma maneira positiva para o investimento na manutenção das reservas e cuidados com a natureza.

Conheça o Projeto Yaripo

Com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA), os índios yanomami criaram uma startup de ecoturismo para exploração da região e a nova proposta de integração entre os povos — indígena e branco — desenvolvendo uma relação pautada em respeito, cultura e tradição, adquirida ao longo dos anos e dos fatos históricos.

O projeto ganhou o nome Yaripo, em homenagem à montanha situada na Amazônia — que ainda hoje sofre com as atividades do garimpo ilegal. Os parceiros de instituições governamentais e não governamentais como ICMBio, Exército Brasileiro, Funai, Sematur (Secretaria de Turismo do município de São Gabriel da Cachoeira) e o próprio ISA abraçaram a causa dos yanomami.

Ao entender que o projeto tem potencial de negócio e que ele será capaz de promover o bem-estar dos povos, a proteção fronteiriça e da biodiversidade, não apenas apoiaram como disponibilizaram recursos de suporte.

A implementação do projeto Yaripo objetiva a geração de renda com distribuição comunitária já prevista na assembleia geral da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (Ayrca) e benefício a cerca de 800 pessoas, que vão atuar diretamente com o turismo, em diversas funções.

Foram quatro anos de preparação até chegar ao formato que será implantado. Nesse período, aconteceram muitas reuniões e diálogos entre as frentes indígenas e os mais diversos profissionais envolvidos — professores, representantes de associações, agentes de saúde — interessados em apoiar o projeto.

Algumas etapas importantes devem ser observadas, como condição mínima para iniciar as atividades:

  • conhecimento em gestão de empreendimento;
  • capacitação em primeiros socorros;
  • instalação de um sistema de radiocomunicação;
  • melhora dos pontos críticos na estrutura das trilhas;
  • elaboração do diagnóstico ambiental da trilha e arredores.

Apresentar a cultura e o misticismo que envolve toda a região Amazônica, em especial Yaripo, com a fascinante ancestralidade indígena, é o principal desejo dos yanomami. Com o projeto, será possível aos turistas ter acesso à culinária, medicina tradicional e modo de vida dos povos indígenas.

Eles acreditam que estabelecer conexão com a sociedade branca em tempos modernos pode criar uma nova forma de desbravar a natureza, respeitando o tempo e o espaço indígena, valorizando ainda mais o fato de serem fiéis defensores da terra sagrada.

Embora os yanomami estejam à frente do projeto, a área é habitada por índios de mais quatro tribos demarcadas — Balaio, Cué-Cué, Marabitanas, Médio Rio Negro II — que somam cerca de cinco mil habitantes, espalhados pela região.

A iniciativa do projeto Yaripo abre a reflexão sobre a inversão dos valores e fatos, pois as reservas indígenas não foram contextualizadas à época da criação do Parque Nacional. Atualmente, entretanto, os povos indígenas fazem questão de inserir o homem branco em sua cultura, dando a oportunidade do resgaste de uma boa relação perdida ao longo dos anos.

Entenda como funciona a comunicação e a integração entre os dois povos

O guia de montanha Luiz Antônio Gambá, um ex-militar apaixonado pela natureza e que atua em unidades de conservação ambiental realizando regastes em florestas com desbravamento consciente, foi o responsável pela instalação da antena repetidora de sinal.

A antena permitirá o funcionamento de rádio em toda a trilha, para facilitar a comunicação cotidiana e durante as expedições, no diálogo entre guias yanomami, turistas e base de resgate, com harmonização e integração de maneira saudável.

Veja como se dá a capacitação de guias e socorristas

Em setembro de 2018, o guia Luiz Gambá partiu em expedição pela floresta amazônica, em um trabalho voluntário, sentido ao Yaripo para algumas semanas de capacitação técnica dos indígenas que farão o acompanhamento de turistas quando o projeto entrar em vigor.

Os yanomami desejam autonomia sobre a gestão do projeto, para garantir a distribuição correta e justa entre a comunidade indígena. Portanto, os índios que atuarão em contato direto com os turistas já se preparam para ser, além de guias, carregadores, cozinheiros, socorristas, pilotos de barco e proeiros.

O plano logístico dos yanomami para as expedições dentro do projeto é fantástico e permitirá ao turista uma aventura inesquecível com total viagem a um passado histórico, aulas interativas e completa imersão na cultura desse povo.

Veja como eles estão se preparando para a condução dos turistas ao Pico:

  • organização: gerida pela AYRCA;
  • transporte: fluvial;
  • hospedagem: xapono, paragem e barraca;
  • alimentação: cozinheiro xapono e cozinheiro trilha;
  • condução: guia e carregador;
  • compras: artesão e artesãs.

O presidente da Hutukara Associaçao Yanomami (HAY) e líder político da reserva, Davi Kopenawa Yanomami, disse em um poema:

“A terra-floresta só pode morrer se for destruída pelos brancos. Então, os riachos sumirão, a terra ficará friável, as árvores secarão e as pedras das montanhas racharão com o calor. Os espíritos xapiripë, que moram nas serras e ficam brincando na floresta, acabarão fugindo. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los para nos proteger. A terra-floresta se tornará seca e vazia. Os xamãs não poderão mais deter as fumaças-epidemias e os seres maléficos que nos adoecem. Assim, todos morrerão.”

Esse é um projeto de tanto amor a uma terra e a uma cultura que, ao vigorar, dificilmente alguém dará outro nome à montanha se não Yaripo. Certamente, esse projeto entrará pra a história como um plano audacioso e inovador, e ainda ajudará na geração de renda para esse povo tão sábio.

Você gostou de saber que o maravilhoso projeto Yaripo está a caminho para beneficiar os amantes da natureza e aventura? Então, compartilhe este texto nas suas redes sociais e deixe que seus amigos também saibam e tenham vontade de desbravar a natureza nas sagradas terras amazônicas!

Columbia Sportswear

Conheça nossa Loja Virtual »

POSTS RECENTES

FIQUE POR DENTRO!
Receba dicas de destinos, produtos e muito mais para aproveitar melhor suas aventuras!
Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!